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Culinária
Os
primeiros indígenas
que provaram a
comida de branco
não gostaram.
Dois deles, levados
à nau capitânia
e recebidos pelo
próprio
Pedro Álvares
Cabral com muito
prazer e festa,
provaram o pão,
peixe cozido,
confeito, farteis
(“massa de doce
mais ou menos
delicada, envolta
numa capa de massa”,
segundo a definição
do Dicionário
de Morais), mel,
figos secos. Não
comeram quase
nada – é
o depoimento da
nossa primeira
testemunha ocular
da história,
o Caminha. E,
se provavam alguma
coisa, logo cuspiam.
Do vinho, mal
provaram e não
gostaram. Até
a água
serviu apenas
para um bochecho.
Gostaram do arroz
e do lacão
cozido, frio (fiambre),
assim como aprovaram
as facas de bom
gume e fina ponta
que os portugueses
usavam como objeto
pessoal e inseparável.
A gente da terra
usava como colher,
as conchas de
mariscos.
Não gostaram
– de início,
pelo menos – foi
do açúcar
e dos estranhos
temperos que fizeram
os portugueses
navegar, procurando
o caminho marítimo
para as Índias:
cravo e canela,
principalmente.
Mas gostaram muito
da aguardente
de uva, assim
como os brancos
aprovaram a de
milho, com a qual
os homens da terra
se embebedavam,
no que eram acompanhados
pelos portugueses.
A primeira agricultura
européia
no Brasil foi
baseada no conhecimento
prático
dos índios,
seguindo-lhe os
métodos
e apenas introduzindo
novas plantas
e os animais domésticos.
Mas a gente da
terra não
servia para a
cozinha do branco,
que foi obrigado
a valer-se da
escrava africana,
negra.
“Mostraram-lhes
(aos nativos)
uma galinha; quase
tiveram medo dela,
e não lhe
queriam pôr
a mão.
Depois lhe pegaram,
mas como assustados.”
Pero
Vaz de Caminha
-Carta a El-Rei
D. Manuel, Dando
notícia
da descoberta
do Brasil
Dos indígenas
recebemos, principalmente
do índio
tupi, dois elementos
nativos que passariam
a integrar a dieta
do brasileiro:
a mandioca e o
palmito.
Farinha
de mandioca
A
farinha-de-pau,
de manic ou manibot
- hoje dita mandioca
-, era feita ralando-se
a raiz que cresce
dentro da terra
em três
ou quatro meses,
tornando-se tão
grossa quanto
a coxa de um homem
e longa mais ou
menos de 1 pé
e meio. Depois
de arrancá-la,
secavam-na ao
fogo ou ralavam-na,
ainda fresca,
numa prancha de
madeira cravejada
de pedrinhas pontudas,
reduzindo-a a
uma farinha alva,
empapada, que
ia para um recipiente
comprido, de palha
trançada
- tipiti -, para
escorrer e secar.
O que escorre
é um veneno
mortal, por culpa
do ácido
cianídrico,
que o sol faz
desaparecer em
dois ou três
dias, deixando
a manipueira livre
de perigo. O resultadp
é o tucupi,
ingrediente essencial
de um dos mais
típicos
pratos da cozinha
brasileira, o
pato ao tucupi
- embora aqui
não houvesse
patos,, na época
da colonização.
Tipiti
Alimento
pobre, saboroso
e facilmente digerível
- principalmente
quando fresco
-, essa ffarinha
não serve
para fazer pão,
mas é perfeita
para a farofa,
beijus, pirões,
sopas e mingaus.
A gente da terra
fazia com ela
um mingau grosso,
ou comia-a pura
mesmo, pegando-a
com quatro dedos
na vasilha e atirando-a
de longe a boca,
com tal engenho
e arte que não
perdia um só
farelo. E os brancos,
tentando imitar
- confessa Jean
de Lery, francês,
e que veio para
o Brasil com o
Monsenhor de Villa
Ganhão
(como rezam os
documentos) -,
sujavam o rosto,
as ventas e bochechas
e barbas.
As mulheres daqui
faziam também
grandes bolas
com a massa de
aypi ( a mandioca
mansa, sem veneno),
que espremiam
entre as mãos.
O caldo cor de
leite era colhido
em vasilhas de
barro e exposto
ao sol. O calor
condensava e coagulava
a beberragem,
como coalhada.
Cozinhando no
fogo, é
um bom alimento.
O aipim não
serve para a farinha,
mas assado na
brasa torna-se
brilhante como
a castanha assada
ao borralho, e
o gosto é
parecido. Servido
com mel silvestre
(o mesmo que se
fazia com a batata-doce
e o cará),
resultava em um
prato que portuguêses
e franceses reconheceram
como delicioso.
O estadunidense
John Casper Branner
queria exportar
a farofa para
o mundo.
Beiju
ou Biju
Bolo
feito de massa
de tapioca ou
de mandioca muito
fina, enrolada
em forma cilíndrica.
Característico
da alimentação
indígena,
o beiju foi recriado
pelo portugueses,
que acrescentaram
açúcar
e condimentos
diversos à
massa, e pelos
negros, que o
enriqueceram molhando
no leite de coco.
Pirão
Prato
de origem indígena,
muito popular
em todo o Brasil,
constituído
de papa grossa
de farinha de
mandioca misturada
em água
ou em caldo. É
muito utilizado
no acompanhamento
de peixes.
Pipoca
Do
tupi pi'poka,
estalando a pele.
O milho, que entre
outras coisas
permite a pipoca,
de quem Debret,
o pintor que veio
fundar nossa primeira
Escola de Belas
Artes, disse que
era a maior contribuição
do brasileiro
à cozinha
mundial. (Sua
receita, copiada
dos selvagens:
jogar o milho
verde com sal
no borralho e
depois soprar
as cinzas).
Tapioca
Doce de origem
indígena
feito com a fécula
da mandioca, espécie
de beiju recheado
com coco ralado.
Tanto o recheio
quanto o adoçante
foram introduzidos
pelos portugueses.
Cauim
Para
beber, as mulheres
cuidavam de mascar
a mandioca, esmagando-a
com os molares
e enrolando-a
com a língua
no céu
da boca. É
como mascar tabaco,
mastigando bem
e com bastante
saliva, cuspindo
tudo num pote,
até que
esteja cheio.
E eram só
as virgens que
tinham a honra,
porque as outras
estragariam tudo.
A mesma coisa
faziam com acaiá,
pacoba, milho,
ananás,
bata-doce, jenipapo,
caju e outras
qualidades. O
resultado, dito
cauim, é
uma bebida nutritiva
e inebriante,
de gosto ácido
e muito semelhante
ao soro de leite,
que os portugueses
não podiam
suportar pela
lembrança
do cuspe. Preferiam
beber o vinho,
esquecidos das
uvas pisadas com
os pés.
Entre outras coisas,
a gente da terra
nos ensinou a
beber guaraná
e mate, deixando-nos
ainda toda a herança
dos mingaus e
pirôes.
Sem conhecer o
trigo, sem grande
variedade de verduras
e legumes, mesmo
assim a gente
era bem alimentada,
principalmente
porque o milho
(avati) e as frutas
completavam muito
bem a mesa farta
de carnes e de
frutos do mar.
E mesmo de verdes
comiam alguma
coisa, como o
broto da própria
mandioca (com
o que se faz a
maniçoba,
um dos bons pratos
da cozinha baiana).
Terra
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